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Xandão, o cidadão da floresta


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Na mente e no bolso vão os poemas do pai, que são declamando em qualquer oportunidade nos congressos e eventos


Alexandre Silva Maciel ou para os mais chegados, Xandão. Acreano, nascido em 1991, pai de duas meninas, ambientalista, militante partidário filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e morador da Reserva Extrativista Chico Mendes. Ele vive com os pais, Anacleto Maciel e Francisca Dias, e os irmãos no mesmo pedacinho de terra no Seringal Amapá, Colocação Itararé, no km 59 de um ramal da BR-317, entre Brasileia e Assis Brasil.

Nascido em uma família de militantes, Xandão tem como referência o pai, Anacleto, que junto com Wilson Pinheiro e Chico Mendes, lutou como defensor da floresta e dos direitos humanos, e hoje milita ao lado dos filhos. Ainda criança, Alexandre, sem entender nada dessa luta, já acompanhava o pai nas reuniões. Com o passar do tempo foi pegando gosto pela causa.


Hoje, aos 26 anos, ele é uma liderança de sua comunidade e nacionalmente é o segundo diretor de articulação de juventude do Conselho Nacional de Populações Extrativistas (CNS).


O jovem extrativista tem carregado em seu “lattes” uma vasta experiência Acre afora. Participou de vários congressos ao redor do Brasil com muito orgulho e zelo, como ele próprio afirma. Anota todos os detalhes e quando volta, repassa aos companheiros, por considerar que o conhecimento tem que ser compartilhado.

Xandão conta que num desses encontros nacionais conheceu a fúria de um estado não tão democrático, sentiu spray de pimenta e bomba de gás lacrimogênio como uma lembrança para o resto da vida.


Nosso encontro, meu e de Alexandre, aconteceu no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia (STRB), acompanhado por seu pai. Xandão estava na cidade devido o nascimento de sua segunda filha, Ester Emanuella. Em meio à poeira e ao barulho das obras do Museu Wilson Pinheiro, que funciona no mesmo local do STRB e que foi destruído completamente na alagação de 2012 do Rio Acre, Alexandre conta um pouco de sua vida.


Pergunto a ele como é viver na floresta, e logo um sorriso meia boca se abre. Talvez o sorriso deva ser pela felicidade de viver numa terra rica, mas cheia de desafios. Não fica claro, mas sinto que Xandão tem orgulho de ter seu lugar na floresta amazônica e que deixará para suas filhas, Ester, de 3 meses e Alany, de 7 meses. Para minha pergunta, ele oferece uma resposta bem certeira: “A floresta é o bem mais precioso do mundo”.

Em seguida ele fala de vitórias do movimento social e de coisas que ainda precisam melhorar nas comunidades. Sua primeira explicação começa com a educação, que em tempos passados era bastante difícil. Xandão apresenta um dado: “90% dos alunos que terminam o ensino médio não continuam os estudos”.


Seu desejo é cursar uma faculdade para ajudar sua comunidade. Alguns jovens que saem da floresta para buscar estudo entram por outros caminhos e não querem mais voltar para suas terras. Em uma das minhas várias andanças pela Reserva, estive com a chefe do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade, Cristina da Silva, e ela mencionou como é difícil fazer com que os jovens queiram permanecer na floresta, mas, mais difícil ainda é garantir a eles o acesso à educação. “Queremos dar mais oportunidades para os jovens da reserva, que ele estude e volte para ajudar sua comunidade. A Resex Chico Mendes foi criada para filhos e netos, mas quem serão os filhos e netos que a herdaram, se muitos não querem permanecer nela?”


Sobre sair da floresta, a resposta foi tão rápida quanto as batidas do martelo que aconteciam no Museu Wilson Pinheiro: “Não, jamais”! Fica claro que Xandão respeita o legado de seu pai e quer continuar lutando pelos povos da floresta ao seu lado, acreditando que “família unida jamais será vencida”. Sua semente está plantada no seringal e de lá não quer arredar o pé. Seu desejo é passar esse legado para suas filhas, o que ele manifesta deixando correr uma lágrima por trás dos óculos fundo de garrafa.


Terminamos nossa conversa e dou uma aperto de mão, e digo que na próxima oportunidade quero ir conhecer a comunidade dele.


Publicado Originalmente no jornal A CATRAIA — Março de 2018

 
 
 

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